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O que é arquiteto e urbanista. “Afinal, vocês só fazem a decoração”

Updated: Feb 3

por Bruno Gobi, arquiteto e urbanista


Até que, tantos livres o amedrontando,

renegou dar a viver no claro e aberto.

Onde os vãos de abrir, ele foi amurando

opacos de fechar; onde vidro, concreto;

até refechar o homem: na capela útero,

com confortos de matriz, outra vez feto.


(João Cabral de Melo Neto – “Fábula de

um arquiteto”, 1975)






Das formas sutis até as mais complexas curvas; do desenho de um portão ao desenho da fachada de uma casa; do desenho da casa a implantação de um conjunto, uma vila, um loteamento, um bairro, uma cidade. No desenho sempre há intenção. Ora cria-se percursos, ora indica-se sutilmente “não pise aqui” ou onde pode andar o pedestre, o ciclista, o veículo... Determina sombras, protege da chuva, cria abrigo.

É a partir do traço que tudo começa, depois desenvolve: passa a ter projeto, técnica, cálculos, obra, gabarito, fio de prumo, e, por fim, não tem fim. Porque quando o espaço vira abrigo, se transforma o cenário. A paisagem muda, vira muro, parede, estrutura. Começa a ser habitado e, depois, quem sabe, vira ruína e aí começa tudo de novo.


“(...) todo espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa (...) veremos a imaginação construir “paredes” com sombras impalpáveis, reconfortar-se com ilusões de proteção ou, inversamente, tremer atrás de um grande muro, duvidar das mais sólidas muralhas” BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. 1957


A primeira coisa que se aprende na faculdade de arquitetura são os três princípios básicos, criado por Marcos Vitrúvio Polião, arquiteto romano do século l a.C, no seu “Tratado de Arquitectura”:

Venustas / Firmitas / Utilitas.




Ou seja, beleza, firmeza e função. Este é o equilíbrio. Uma edificação precisa ser funcional e atender às necessidades para ser habitável, precisa ter firmeza sendo bem estruturada e com desenhos que permitam a viabilidade de sua execução e precisa ser bonita. Mas é claro que o ofício do arquiteto e urbanista vai além.

O arquiteto-urbanista é fundamental para a sociedade, para pensar e desenvolver uma cidade democrática, praticando e evoluindo seus planos diretores e códigos de obras, com suas respectivas zonas e usos. Uma edificação não é indissociável da cidade, ela faz parte de uma paisagem e do contexto urbano de onde está inserida.

Através da arquitetura, da engenharia, das construções, das decorações, cria-se memórias e sentimentos em quem as habitam, passam por elas, veem nos sites e revistas, ou ainda em quem ouve sobre elas. Boas ou ruins fazem parte das narrativas, das histórias, de verdades, de mentiras e de poesias.


Crianças, risos e janelas Namoradeiras, tranças, chitas amarelas O vermelho das telhas, o luzir da centelha Ah, te faz sentir como dentro de uma tela A esperança pinta em aquarela Chiadeira de rádio, TVs e novelas O passeio das abelhas, o concordar das ovelhas nas orelhas E a vida concorda de tabela.


(EMICIDA – “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida)




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